Camisa 7






















Fragmentos do livro Camisa 7:


BELEZA TORTA

Todos procuram o certo,
O correto, o direito...
Nós, os inimigos do equilíbrio
Somos estrábicos, anti-tudo,
Quase anomalináveis.
Viemos com defeitos de fábrica,
Provamos que a reta
Não é o menor caminho entre dois pontos.
Afrontamos a matemática, a lógica.
Um simples entortador jogou tudo por terra.
6 centímetros a menos numa perna,
Os joelhos ao contrário um do outro,
Um deslocamento na bacia,
Desafiava a medicina e a ciência

De repente, o status quo do alinhado
Viu-se perdido diante do incorrigível.
O mundo mudou seus conceitos ortopédicos,
O deus da beleza passou a ser torto.
Hoje Apolo vende cachorro quente na praça;
Narciso se achou feio e se afogou;
O atleta perfeito explodiu seus músculos anabolisados;
O rei perdeu o reinado e o pescoço.

Não tinha nome nobre
Era um simples Manoel dos Santos,
Um disformizado que atendia por apelido
E se disfarçava de pássaro

Deus quando joga uma bolinha usa a camisa 7.
O time do diabo sempre perde.
O codinome de demônio das pernas tortas
É magia Negra e Branca,
Poderia ser também Jeová desengonçado,
Driblou os terráqueos e os que já subiram,
O céu e o inferno fumaram no mesmo cachimbo.
A estrada do povo não é reta, é sinuosa.

04/02/07

DR. MANGA

“Já gastei o dinheiro do bicho.
O leite das crianças está garantido”.

Manga falava como um grande general.
Podia chover canivete, chute de canhão
Que nada conseguia furar o véu da noiva

Se essa filosofia fosse aplicada no dia-a-dia
Por um goleiro-político ou um empresário arqueiro,
Qualquer canalha, dono do mundo,
Que Fizesse uso dessas pérolas poéticas,
Talvez as crianças não precisassem do bicho.?
Toda tentativa de provocar o adversário
Seria menos sofrida.
Ter a alimentação garantida na corda do vencer.
Um errozinho, normal, humano,
O leite escaparia pelos dedos
E faria gol no ralo

Felizmente, nossa árvore era frutífera,
Alimentava toda a família alvinegra,
Dando-nos melhor qualidade de vida;
Sombra boa, secular,
Nome certo em toda escalação,
Nenhum técnico-torcedor deixa de dar o seu voto.

Manguinha era o astro-profeta.

Astrologava como uma fortaleza imbatível.
Espero que na pequena área tenha alguma semente,
Estamos carentes desse suco.
Quero repor minhas energias,
Joguei manga com leite no liquidificador.
Podem bater pênalti
Que defenderei com os olhos fechados.
Dr. Manga era advogado nº 1 do Botafogo.

07/03/07

HINO DE AMOR PARA BETH CARVALHO

Bethinha foi minha namoradinha
Nos tempos de escola.
Tínhamos o mesmo gosto e atração.
Ninguém estranhou quando nos viram de mãos dadas.
O Fogo nos incendiava na pureza infantil,
Era namorinho de criança
Feito brincadeira de boneca e carrinho.
Ela cantava e eu escrevia,
A dupla que a Estrela Solitária iluminava.
Veio a falta de título, desespero,
A guerra pela conquista entrou no meio
E separou o casal do brilho perfeito.

Caí na vida, lutei, politiquei,
Passei apertos durante 21 anos.
Numa loja de eletro-domésticos
Escutei uma voz conhecida,
Gravada a ferro em brasa no meu inconsciente.
Era ela, toda linda, bela...
Comprei a televisão
E entrei no aparelho via satélite,
Me disfarcei de adulto.
Sou seu fã, por favor, um autógrafo.
Perguntou meu nome... Poetinha...
Olhou desconfiada,
O computador da mente entrou em pane;
Lágrimas vieram, beijou meu rosto,
Fiz uns rabiscos no chão
E pulamos amarelinha.
Era a mesma paixão
Como nos bons tempos.

07/02/07

NOMES DE BEBÊS

Não conheço nenhum Adilson na nossa história.
Sou o primeiro.
Não como jogador, poeta sim.
Agora faço parte do Livro de Bebês da Santa Casa.
Determinado, audacioso, guerreiro, inteligente,
Humilde, forte, senhor do ar e da terra,
Bondoso, carinhoso, atencioso, verdadeiro...

O Botafoguense querendo agraciar seus rebentos
Procure nos arquivos santificados,
As crianças começarão com o pé direito
Um nome Alvinegro num futuro torcedor
É um presente divino e passe livre ao paraíso.
Se todos os pais fizessem essa pesquisa
A torcida seria uma biblioteca viva

Manoel! Milhares olhariam.
Viram o Heleno? Qual?
Roberto, Valtencir, Afonsinho...
Todos com o certificado da Estrela Solitária.
Já vi muito Amarildo por aí,
Jair nem se conta,
Gerson à tonelada...

O homem feliz liga todos os seus amores,
Dá um nó Preto e Branco em toda sua existência,
O Botafogo é sua família, é seu tudo.

Por isso, vale fazer muito amor,
Depositar a sementinha na flor amada,
Quarar sem economizar.
Após nove meses o pupilo escorregará campo abaixo,
Dei-lhe uma bola e o conjuntinho sagrado.
Meu nome, quem quiser pode usar.
Por favor! Me chame para o batizado.

06/04/07


O ATOR

Marcelo Antony é Botafoguense até na ficção.
Ator não escolhe o papel,
Nem a fome escolhe prato.
Que seja vilão, mocinho, homossexual ou machão
O importante é o personagem
O show tem que continuar
Vive-se o momento interpretado

Ele não aceitou vestir a camisa adversária
No irreal ou no pesadelo,
Foi fiel à Estrela-Mãe

O Botafogo não é um clube, é um estado,
Uma sustentação da alma,
Somos seus soldados, temos bandeira.
Se no jogo do faz-de-conta tudo pode acontecer,
Somos dotados de limites,
Temos uma missão a cumprir.
Acredito nos astros, sigo suas linhas
Viver na terra é um pequeno instante
Após o último suspiro seguiremos nosso rumo
O espírito deixará o corpo nulo
Uma vida maior nos espera

Por isso, não há traição,
Cada um no seu caminho,
Luto pela divisão do chão.

O autor aceitou mudar o personagem,
Marcelo viveu duplamente sua grande paixão.

08/02/07

O MAGO DO BANCO DOS RESERVAS

A sua vida está por um triz?
O abismo é inevitável?
Já fez o possível e deu tudo errado?
O fim está próximo?

Existe solução!
Pare de sofrer!
Não é religião, nem anúncio de porta de igreja.
Não se brinca com os sentimentos e a fé alheia,
Respeito é um dos mandamentos da nossa Bandeira.

A torcida do Botafogo orava em voz alta,
Era o milagreiro Alvinegro,
O talismã do golpe derradeiro,
O super-rei do segundo tempo,
Ninguém foi mais Reserva do que ele

Os técnicos nada entendiam de simbolismo;
Queriam que fosse o mesmo desde o início;
Não percebiam que os seus dez minutos
Não eram terrenos, eram cósmicos.
O que para os humanos seria o final,
No seu mundo o jogo estava começando

Podem escalar a seleção mundial,
Ferreti será eternamente
O Grande Mago do Banco dos Reservas.
Os adversários tremiam,
O chão rachava quando os alto-falantes anunciavam,
A Suderj informa: FER-RE-TI!
Eclipse, raio, trovão...
Alguém no céu torcendo apertava algum botão.

06/02/07

OS MANDAMENTOS

Estou me sentindo um sacerdote.
Vários fiéis vão se formando em fila indiana
Com o Manto Sagrado Preto e Branco.
Esse povo quer uma luz,
Ser seguidor de algum líder confiável;
A Estrela no meu peito
Dá uma paz espiritual sem nada que se compare
É a felicidade plena em Listras Sagradas.

Recomendei cantar o Hino a cada 8 horas;
Ter a imagem aureolada do Garrincha
Com uma vela e um copo d'água;
Ler os livros dos manjes da Estrela Maior;
Assistir todos os jogos
Sem antes ajoelhar e rezar;
Não cobiçar a Alvinegra alheia
E nem seus pertences materiais;
Aprender os códigos de comunicação entre os irmãos
E ajudá-los sempre quando for feito o sinal;
Nossos cultos são em volta das quatro linhas,
Dinheiro só do ingresso,
Nada de sacolinha ou 10%
Quando financeiramente ou por doença não puder ir,
Acompanhe pelo rádio ou TV,
Nunca falte por outro motivo,
Vá a todos, inclusive fora do estado ou país;
Não ande com adversários,
É melhor sozinho do que mal acompanhado;
Nas refeições contraste os alimentos:
Café com leite, feijão e arroz...
Não coma peixe do além-mar;
É totalmente proibido carne de urubu;
É salutar misturar as raças bicolores;
Perfumes só os puros Brancurais e Escurais
Não passe pó-de-arroz,
Provoca tosse, alergia e indigestão.

Escrevi em Fogo na pedra,
Subirei na montanha mais alta
E mostrarei nossos Mandamentos à nação.

09/02/07

PINTAR O 7

Se os clubes tivessem um pouquinho de sensibilidade,
Todos, sem exceção, aposentariam o número 7.
Seria uma demonstração de respeito a um co-irmão.
Somos uma máquina setificada,
Ponta direita no Botafogo é produzido em alta escala,
Faz-se à tonelada, tipo exportação.
A diretoria Alvinegra mantém os royaltys de fabricação.
É petróleo, café, leite, arroz, feijão...
Produtos com o selo do Imetro
E o Iso Preto e Branco.
A numeração tem que mudar;
Do goleiro ao ponta-esquerda, todos 7,
É a nossa maior marca

Desde a categoria Fraldinhas,
A meninada é criada pelo caminho direito.
O futuro dos mini-setinhos está garantido
Com educação de qualidade,
Refeições gratuitas, horário integral,
Médicos, psicólogos, dentistas, assistentes sociais,
Biblioteca, sala de vídeo, quadra esportiva...
Tudo nos moldes do Super-7 Darci Ribeiro;
Os CIEPS são os campos dos deuses;
Brizola jogava como Garrincha,
Oscar Niemayer também.

Maurício, o Mago do Toque Celestial,
Em 89, nos deu o título perseguido,
Devia ter esticado sua mão poderosa
Aos outros adversários na corrida presidencial

O Brasil, hoje, poderia ser 7,
Mas o Fogo não vai se apagar,
Pintar o 7 é a luta que continua,
Eternamente...

08/02/07

RITINHA

Quando pequeno era muito nervoso,
Não podia ver buraco de tijolo;
As bonecas da Estrela da minha irmã viam estrelas.
Subia parede com as chacretes,
Minha mãe pensava que eu estava comportado no sofá.
Às vezes, me mandava fazer algo,
O calção sem cueca não escondia o meu artefato militar,
Ela fingia que não via e ria,
Sabia que o meu caminho seria o banheiro

Rita Cadilac deflorou minha infância,
Fiz muitos calos na mão,
Era uma Estrela Solitária naquela constelação
E nos jogos do Botafogo
Sonhava ser Jair, Roberto, Paulo César...
A partida terminava,
Outra começava no meu quarto escuro.
Jogava pelada covarde de cinco contra um,
Essa é a primeira escolinha que todo hétero se matricula.
Rita vinha dançando, gingando, brilhando...
Era minha, toda minha...
Parecia aureolada com as nossas cores.
A minha fé naquela mulher fez telepatia,
Sou tarado por futebol e sexo.
A determinação não a trouxe para a minha cama,
Mas coloquei a Bandeira Alvinegra no seu coração.

Gostaria de agradecê-la
Por ter incendiado meu ímpeto de menino.
Quando estou ao vivo
Fico louco pelos muitos treinos.
Amo minha companheira,
Aprendi a trocar
E ver na fantasia a Ritinha dos meus sonhos.

13/03/07

MPB

A música tabela com o futebol.
30 e 60 foram as melhores décadas da MPB.
Muitos craques compositores apareceram:
Pixinguinha, Noel, Braguinha, Cartola...
Depois Vinícius, Tom, Chico, Vandré...
Dois timaços de épocas diferentes
Que ouvimos até hoje

Por coincidência o Botafogo
Também comandava as paradas de sucesso.
Um povo mostrava sua força cultural,
Um grito de liberdade contra a interferência estrangeira.
Resistimos.
Um Brasil redondo não abaixa os braços
E não se entrega nunca.
A cantoria Preta e Branca
Planta para colher outra década de ouro
E que seja uma após a outra,
O povo brasileiro é criativo e guerreiro.
Felizmente temos o drible do Garrincha
E o remédio infalível do Dr. Carvalho Leite
Para furar o império dos zagueiros do poder.

Os Botafogos de 30 e 60 cantavam MPB.

23/03/07

SIBORRÔ

No futebol são 11 contra 11,
Mas esse Botafogo x Flamengo,
Decidindo o Carioca 2007, eram 14.
Esses 3 jogadores a mais fizeram a diferença
Jogaram um bolão
Foram os melhores em campo.
Quem tem o juiz e os 2 bandeirinhas
Não perde nunca.

Sempre somos a vítima,
A favor só erro.
Os juízes do Supremo Tribunal
Foram pegos na Operação Furacão,
Acredito que o nome é uma homenagem ao nosso Jair.

Se a Polícia Federal seguisse essa trinca nefasta,
Sigilo bancário e telefônico,
Filmasse encontros,
Acompanhasse seus passos 24 horas,
Encontraria alguma carniça.
O craque do apito desviou o caminho do título,
Fizeram a mesma coisa com o Madureira.

Esse Quadro Carioca de Arbitragem
Foi pintado pelo célebre pintor Francês Siborrô.

06/05/07

12° JOGADOR

O Botafoguense não têm defeitos,
Os adversários se não tiverem, eu os coloco.
Podem até vencerem,
Arrumo uma anomalia na unha do dedinho mindinho.
Se eu fosse porteiro do céu
Só os Estrelados entrariam.
O demo ficaria enfastiado
De tanto churrasco de carne humana.

Defendo minha gente em qualquer situação

Cheguei em casa
Dei de cara com um malandro saindo do meu quarto
Alto, louro, olhos azuis, bronzeado...
Meti-lhe a porrada pensando que fosse ladrão.
Não! Minha mulher gritou,
Ele é surfista da praia de Botafogo.
Hoje sei nadar graças aquele bom rapaz.

Um sujeito na minha barraca
Bebeu e não pagou.
Dei-lhe um safanão e tomei seu cordão,
Não queria saber do valor,
A medalhinha valia mais do que ouro,
Tinha o símbolo da Estrela Solitária,
Devolvi, pedi desculpas
E botei uma dúzia por conta da casa.

Votei num candidato denunciado por caixa 2,
Formação de quadrilha, falsidade ideológica,
Desvio de verba, uso indevido do dinheiro público,
Sonegação, abuso de poder, assalto, estupro...
Ele usava uma estrela na lapela,
Era vermelha, confundi com a nossa
Dei a força do meu voto
Para um partido que não trabalha

Se dependesse de mim
O Botafogo jogaria com 12.

21/03/07

JOGOS DE HISTÓRIA

O Botafogo pagou caro
Pelo crime de jogar com liberdade.
Ficou 21 anos sem título,
Teve um presidente com parentesco
Leal às forças armadas,
Vendeu nossa casa,
Fomos para o subúrbio,
Ficamos longe do centro cultural e político.

Ser Bi-Campeão em 68 irritou os botinudos;
A torcida nas ruas parecia manifestação contrária;
Vazamos noite afora
Desrespeitando o estado de sítio.

+ Um campeão sul-americano de boxe,
Com quase 2 metros de altura,
Dava porrada no Araguaia,
Osvaldão era um guerrilheiro botafoguense,
Usava a nossa Estrela para iluminar a pátria;
+ Saldanha, técnico da seleção,
Era uma fera
Que não aceitava ordens nem prisão;
+ Stepan que lutava pela anistia
Com um armamento pesado chamado poesia.

Somos o sangue do escravo e do colonizador,
Duas faixas com medidas iguais,
Em pé, soltas, livres...
E Dalva na proa da vanguarda libertária
Servindo de bússola e luz
A um povo que quer conquistar sua dignidade.
O Botafogo é um movimento rolando a bola,
Destravando a roda presa e pesada da história.

16/05/07

JUJU

Juju viu o jogo comigo,
Pela minha vestimenta
Sabia por quem o seu dono estava torcendo.
Quando os jogadores pegavam na bola
Suas orelhas subiam, ficava de pé,
Os pêlos arrepiavam, latia...
Entregou seu coração canino à Estrela-Mãe,
Ela cheira o escudo no meu peito,
Lambe querendo dar mais brilho.
Já a vi no terraço com o olhar perdido no céu;
Acho que associa como o mesmo símbolo,
Enxerga o não visto;
Dizem que os animais vêem espíritos,
Talvez o jogo no firmamento seja infinito,
Entrega seus sentimentos
E após essa vida passageira
Sabe que eternamente estaremos juntos.

É gol, ela pula,
Morde minhas mãos querendo me levantar;
No desempate chorei
E vi seus olhinhos lacrimejarem.

Contudo, arrumei vários problemas;
Ninguém com camisa adversária pode passar na calçada;
Sente o mal cheiro a km de distância
E se arma toda para os seus pratos preferidos:
Comeu o traseiro do urubu;
Arrancou as barbatanas do bacalhau;
Rasgou a cartola do maioral
E trouxe o rabo do diabo nos dentes.

Graças a Deus ninguém usa roupa de juiz,
Seria uma carnificina vingativa,
Raiva, parvovirose, sarna, pulga, carrapato...
Tudo que é mal veterinário,
Doença de árbitro é contagiosa e incurável,
Juju odeia som de apito.

07/05/07 (Final 2007)



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